Será a verdade sempre um bem? E se ela for também um mal, será esta uma razão para a ocultarmos? A acreditar nos exemplos que me rodeiam, tenho de dizer que a verdade imperante é somente a das conveniências, o que a transforma frequentemente numa mentira ou, quanto muito, numa meia verdade de significado sempre escuso. Não raro existem, aliás, duas verdades ou, se se preferir, duas mentiras: aquela que cada um escolhe como sua, por crença ou interesse, mas nunca com a certeza que só a razão autoriza, e a que publicamente apregoa e defende, com a intenção de transmitir de si próprio a imagem que mais julga adaptar-se ao agrado dos outros e aos seus objectivos.
(…). Vivemos numa época de dúbios comportamentos, vaidades exarcebadas, hipocrisias notoriamente assumidas, em que todos falam ou agem tendo em vista fins inconfessados, e cada um procura defender-se e atacar com as palavras, utilizando-as para esconder o que deveras pensa. E, ao fazê-lo, ignora deliberadamente a perspicácia dos outros, em geral guiados por idêntico comportamento.
Évora e os dias da guerra, Mário Ventura
Imaginem a quem estas palavras assentam como uma luva. Cada vez é maior o des-governo que nos governa.
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